sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ataque honesto x a falácia do espantalho

Em continuação ao último post(Sunao - Treinando de forma honesta), Stanley Pranin desenvolve ainda mais o assunto.


Esta é uma tradução livre.

Recentemente escrevi um artigo chamado "Sunao - Being honest in training" que suscitou uma certa quantidade de reações dos leitores. De forma resumida, o artigo sugeria que um uke que tenha um conhecimento prévio da técnica sendo praticada para mudar seu ataque e bloquear o movimento do nage está agindo de forma desonesta e dificultando o progresso de ambos.

Alguns reagiram a favor, porém outros já tiveram problemas com o que escrevi. De alguma forma eles interpretaram que eu estava advogando a favor de que "o uke simplesmente caísse ou se desequilibrasse por ser isso o esperado", como foi dito em um comentário. Fiquei tão perplexo com essa reação que re-li meu artigo tentando achar aonde eu havia sugerido tal coisa. Não encontrei nada já que não é dessa forma que considero o assunto, e concluí que quem teceu tais comentários não deve ter lido direito o texto. 

No entanto, também não posso me abster totalmente de culpa nisso já que foram várias as reações nesse sentido. Para esclarecer melhor o assunto, deixe-me mostrar o meu ponto de vista de como o uke deve se comportar durante o treino.

Da forma que vejo, o uke deve oferecer bastante resistência quando iniciar seu ataque. Isso significa que o uke deve ser honesto(ou sunao) no seu ataque agindo de mente limpa. Em outras palavras, o uke deve entender a natureza do ataque que ele deveria estar executando. Um aprisionamento(NT: do pulso, por exemplo) deve ser "puramente" um aprisionamento forte no sentido de que o uke não pré-planeja bloquear o movimento que o nage irá executar. Quando for bater, o uke deve bater com vigor aonde ele esteja visando atingir sem se desviar do alvo apenas para impedir que o nage execute a técnica(NT: ou mesmo por medo de machucar o nage). Como um exemplo descontraído do que pode acontecer caso isso aconteça, veja a referência a Kenji Futaki descrita no meu artigo anterior.

Morihiro Saito sensei frequentemente nos dizia para usar toda nossa força quando segurássemos ele. Caso o nage não conseguisse lidar com o ataque, éramos instruídos a retirar metade da força até que o nage conseguisse fazer a técnica. O objetivo do uke e do nage deve ser conduzir-se durante o treino de uma forma que promova o máximo progresso de ambos.

Pessoalmente, as vezes brinco com meus alunos quando demonstro tai no henko pedindo para que eles pulverizem meu pulso quando segurarem, assim terei um ataque honesto e forte para trabalhar.

Para encerrar, pediria aos leitores que pretendem tecer comentários, para evitarem a armadilha comum que é uma tática comum dos troladores. Me refiro ao que é chamado de "falácia de espantalho"(straw man attack). caso você não esteja familiarizado com o termo, reproduzo parcialmente abaixo o descrito na Wikipedia:

"É um argumento... baseado na deturpação da posição do adversário. Nesta falácia, a refutação é feita contra um argumento criado por quem está atacando o argumento original, e não uma refutação do argumento original."

Foi exatamente isto que aconteceu quando diversos comentários me acusaram de ter sugerido que o uke deva agir de forma complacente e "cair" para o nage, coisa que de forma alguma tive a intenção de fazer. E nem é isso que considero ser o papel do uke.

À medida do possível, eu tento criar uma atmosfera amigável em meus web sites aonde pessoas inteligentes possam trocar ideias para o benefício de todos sem medo de serem alvos de ataques pessoais. É mais ou menos como um dojo de aikido deveria ser. Você não concorda?

"Entendido agora?", pergunta nossa editora

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sunao - Treinando de forma honesta


Quando eu treinei em Iwama sob a orientação de Morihiro Saito sensei há muitos anos atrás, frequentemente ele nos dizia "Sunao ni keiko shite kudasai"(Pratiquem com uma mente honesta, por favor) para lembrar aos alunos que a prática deve ser sincera e com o espírito de colaboração. Um exemplo dessa situação era quando ele via um aluno travando a execução da técnica sendo executada por outro aluno baseado no seu conhecimento do que seria executado.

Digamos que estejamos praticando tai no henko. Eu sei que meu parceiro irá pivotar para fora enquanto estende seus braços na frente do seu centro. Ao invés de simplesmente segurar firme seu pulso, eu forço para cima de forma que o impeça de fazer o giro para executar a técnica. O que acabei de fazer foi me aproveitar da forma pré-arranjada como treinamos para impedir que o parceiro executasse a técnica. Eu não estou sendo honesto(ou "sunao") no meu treino. Tal atitude com meu parceiro seria uma total derrota pessoal além de um tremendo desrespeito com meu professor. Se fosse para eu levantar o braço do parceiro no tai no henko, ele poderia simplesmente se aproveitar desse movimento e levar seu braço em direção ao meu rosto para me projetar.

Essa é uma história verídica que aconteceu no dojo de Iwama há muitos anos atrás. Eu estava treinando com um parceiro que muito forte. Ele sempre me bloqueava uma vez que já sabia o que eu iria fazer. Naturalmente que isso me frustrava muito.  Comecei a bloqueá-lo também, mas apenas para tentar mostrar a ele o meu ponto de vista. Ele continuava me bloqueando e a partir daí simplesmente deixei rolar, esperando o fim da aula e nunca mais treinar com essa pessoa.

Eu sabia que Saito sensei estava nos observando e percebi que ele estava ficando muito chateado com o que estava acontecendo. Finalmente ele gritou: "Dame! So iu kudaranai keiko yamero!"(Parem com esse treino estúpido!). Todos nos sentamos enquanto o sensei explodia com meu parceiro. Ele explicou que qualquer um poderia bloquear a técnica de qualquer um se já souber o que será feito . Esse tipo de treino acabava totalmente com o motivo da prática e que ninguém conseguiria evoluir treinando dessa forma. Em seguida ele expulsou meu parceiro do dojo. Ele se sentiu totalmente humilhado e saiu do dojo de cabeça baixa.

Depois de um mês o sensei permitiu que ele voltasse a treinar. Daí por diante ele começou a treinar de forma sempre respeitosa e tornou-se um aluno exemplar. Eu treinei com ele diversas vezes depois disso e sempre foi muito bom. Algum tempo depois ele montou seu próprio dojo e continua ativo até hoje.

Deixe-me contá-los mais um exemplo retirado da história do aikido. Essa é uma história engraçada que demonstra outro caso de uma pessoa no sendo "sunao". Envolve o famoso Professor Kenzo Futaki que era um dedicado aluno de Morihei Ueshiba no período do Kobukan Dojo nos anos 1930. Futaki sensei era carinhosamente conhecido como "Dr. Brown Rice" por causa de sua dieta macrobiótica radical.

"Um certo dia o Professor Futaki disse a Ueshiba sensei: Sensei, vou atacá-lo com um bokken. Você conseguirá escapar do ataca?". Sensei respondeu sorridentemente: Quando quiser. Quando o professor atacava o Sensei frontalmente durante as demonstrações, o Sensei sempre se evadia para a esquerda. Certa vez ele se antecipou e atacou para o lado para onde o Sensei sempre desviava. Como resultado ele acabou por não atingir o Sensei de novo já que ele não havia se mexido. O professor, claro, admitiu sua derrota.

Quando o Professor Futaki pergunto ao Sensei como ele consegui perceber a direção do ataque, ele respondeu, "Sua mente já tinha se desviado para a direita. Seu corpo esvaziado de espírito fez um ataque extremamente lento."(Retirado de An aikido life - Gozo Shioda).

Neste caso também, o confuso professor acreditava que poderia despistar Ueshiba sensei pois ele achava que este último se moveria de forma previsível. Contudo, o fundador era muito astuto e imediatamente percebeu o ardil. O dr. Futaki não estava sendo "sunao" quando atacou com seu bokken.

Para finalizar vou mostrar um outro exemplo aonde a falta de um espírito honesto no treino leva ao fim de duas carreiras promissoras do aikido. Na minha primeira viagem ao Japão, tinha sempre dois estrangeiros que estavam sempre juntos, no treino e fora dele. Os dois eram segundo dan naquela época. Frequentemente eles podiam ser vistos treinando juntos depois da aula.

Anos depois perguntei a um amigo em comum o que havia acontecido com eles já que havia bastante tempo que não os via e nem ouvia falar deles. Ele me disse que ambos haviam parado de treinar aikido por causa das suas frustrações em não conseguir fazer com que as técnicas funcionassem um no outro. Eles não praticavam aikido com uma mente honesta. Da forma como vejo, eles foram totalmente incapazes de compreender a importância de um treino honesto como forma de desenvolver boas habilidades no aikido.

Eu acho importante que os professores entendam este ponto frequentemente incompreendido e regularmente explicar aos alunos o por que seu futuro progresso na arte depende de adotarem uma mente aberta, honesta durante o treino. Aquilo que os japoneses chamam de "sunao na kokoro".

"Seja honesto, sincero" diz nossa editora

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ranking aikikai no Rio em 2014

Abaixo uma tentativa de compilação das maiores graduações no estado do Rio considerando apenas   , 5º   e 4º   dans.

6º dan

- Bento Guimarães: Aikido Rio de Janeiro
- Luís Antonio Gentil: Circulo de Aikido

5º dan

- Adélio Mendes: Aikido Shikanai
- Alberto Ferreira: Aikido Rio de Janeiro
- Antonio Augusto Araujo: Aizen Aikido

4º dan

- Alexandre Salim: Federação Brasileira de Aikido
- Fernando Sant'anna - Instituto Takemussu
- José Ortega: Aikido Rio de Janeiro
- Luc Leoni: Circle Aikido Leoni
- Nelson de Miranda: Aikido Rio de Janeiro
- Silvio Meirelles: Escola Meirelles de Aikido/FEPAI



Nossa editora pede que, caso tenhamos esquecido alguém, escreva nos comentários

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O aikidô não é uma arte marcial - Texto original do site Verbal Aikido

Texto traduzido livremente a partir do original publicado no site Verbal Aikido. E aí, você concorda?

Notícia importante: o Aikidô não é uma arte marcial!

É claro, sem pensar, a maioria das pessoas irá te dizer que o Aikidô é uma arte marcial e é perfeitamente compreensível que ele tenha sido colocado nesta categoria. Caso você tenha algum interesse na mitologia romana, você já deve saber que uma arte 'marcial' é de facto uma arte de guerra(de Marte, deus da guerra), e claro, tanto o aikido quanto o Verbal Aikido nos ajudam a com as guerras que as pessoas manifestam tanto interna quanto externamente. Mas eu te pergunto: pode essa arte, cuja intenção proclamada é "unificar o mundo através do amor e da harmonia", realmente ser considerada "marcial"?

De fato, qualquer um que tenha um pouco além do tatame, sabe o quanto o fundador do Aikidô, Morihei Ueshiba, insistia que "budo é amor" e que o Aikidô era uma maneira das pessoas viverem em harmonia. Hmmm, definitivamente tem algo errado aí, porque não importa como eu encare isso, não consigo fazer a filosofia do fundador combinar com a ideia de guerra.

"Bom, se não é uma arte marcial, então o que é?" você pergunta. Bem, deixe-me ver, e se, ao invés de categorizarmos esta arte como do deus da guerra, pudéssemos encontrar algum tipo de deus do amor e da harmonia, para ficar mais alinhado com a visão de O'Sensei...

Sem sombra de dúvidas que você já ouviu falar de Vênus, que assim como Marte, antes de se tornarem planetas, ambos começaram suas carreiras como deuses. De um lado da Terra estava a guerra e do outro lado... isso aí, amor.

Vênus era conhecida como a deusa do amor, e qualquer coisa associada a ela seria "venusiano"(nota do tradutor: lembra dos incas venusianos de Nacional Kid?), hmm, acho que você já percebeu aonde quero chegar...

E aí? Você nos ajudaria a promover o Aikidô, e o Verbal Aikido, como artes venusianas ao invés de artes marciais? Pode demorar um pouco para aceitar, mas não dá para discordar que faz muito mais sentido.

Nossa editora tá mais para o marcial, mas gosta de paz e amor