sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Diversidades

Cada um tem seu motivo para começar a prática do aikidô. E ao longo do tempo cada um também desenvolve seus próprios motivos para continuar treinando. E ainda mais, cada um desenvolve seu próprio tipo de treinamento.

Comecei no aikidô há mais de 17 anos. Ao contrário da grande maioria eu não tinha nenhum motivo específico para começar a treinar. Apenas queria fazer alguma atividade física. Na época ainda não havia internet como hoje, e por isso foi difícil achar uma academia. Durante muito tempo foi exclusivamente por essa razão que treinava, mexer o corpo, suar um pouco. Mas depois que o meu professor deixou de dar aulas, nos deixando sem pai nem mãe, e tendo assumido um aluno dele mais graduado, comecei a mudar a minha perspectiva em relação à arte.

Foi nesta época que comecei a ler mais sobre o aikidô. Passei a participar mais de seminários, encontros, treinos especiais. Foi também quando comecei a aplicar mais diretamente o que aprendia em aula, na minha vida. E também quando comecei a observar melhor os acontecimentos dentro do tatame. Para mim, aquela área delimitada pelas quatro linhas é um micro cosmo, um pequeno universo que representa toda a sociedade. Ali você encontra pessoas dos mais diversos tipos. Elas diferem não só em características básicas como altura, sexo, peso, aparência, mas principalmente na personalidade. Há os marrentos, os orgulhosos, os inseguros, os preguiçosos, os violentos, os desequilibrados, os animados, os bonzinhos, os malvados e maldosos.

Quantos não foram, não são e ainda serão aqueles que caem diante da mínima menção sua de fazer um determinado movimento e que apesar de avisados continuam com a mesma atitude. Por outro lado há aqueles que parecem feitos do metal mais pesado possível, que para serem movidos é necessário um guindaste. Existem aqueles que treinam de forma muito leve, basicamente uma dança. 

Por vezes alegando que assim o fazem por estarem em busca de um contato com o universo, porque querem desenvolver seu “ki”. Da mesma forma temos aqueles que treinam extremamente pesado, que estão “pouco se lixando” para essa baboseira de “ki”, de harmonia.

Não há problema nenhum nessas diferenças. O problema acontece quando esses mundos se encontram. Na verdade eles colidem. Vão acontecer reclamações dos dois lados quando isso acontece. “Pô, cara grosso, quase quebrou meu braço!”. “Não vou mais treinar com aquele pessoal não, eles atacam sem energia nenhuma!”. “Você está travando, têm que ficar mais solto.”. Quantas vezes já não ouvi isso. Quantas vezes já não falei isso.

Mas esta colisão só ocorre por falta de habilidade nossa em lidar com a diversidade. E se você já tiver uma certa graduação ou experiência na arte, mostra que você aprendeu pouquíssimo. E se você simplesmente não toma nenhuma atitude para reverter essa situação, mostra que você é um péssimo aikidoca. É necessário aprender a lidar e respeitar os limites de cada um.

Essas diferenças não podem ser encaradas como algo ruim. Pelo contrário, é justamente essa diversidade que torna a prática tão interessante, tão desafiadora, tão difícil. É isso que torna o aikidô aplicável ao seu dia-a-dia.

Cada um tem o direito de escolher a sua forma de treinamento. Isso só não pode significar que o praticante deva ficar estacionado nesta forma. A medida que for crescendo dentro da arte ele deve buscar uma melhora, uma mudança dentro da sua prática. Se você cai por qualquer motivo, procure estudar a razão disso e na próxima vez já não “caia” tão fácil. Em algum momento você vai chegar ao ponto de saber que não dá mais para evitar e a queda é inevitável. Isso poupará muitas contusões. Se você é extremamente forte e gosta sempre de enfiar a cara do uke no chão, reconsidere, veja se isso é realmente necessário, será que apenas desequilibrá-lo e imobilizá-lo não é o bastante?

Alegar que é sempre necessário treinar para arrebentar de forma a se preparar para uma “situação real” não convence. Pelo simples motivo que no treino não é uma situação real. “Treino é treino, jogo é jogo”, já disseram. Quebrar o braço de alguém toda aula não se justifica como preparação para uma situação violenta que você possa vir a se deparar.

A busca da união com o universo e do desenvolvimento do “ki” também não devem ser usadas como justificativas para um treino “ballet”. Se assim você o fizer estará apenas se enganando achando que está adquirindo uma habilidade na arte além de atrapalhar os outros.

Há ainda um grupo mais que ainda não citei. São aqueles que tratam o aikidô como religião.

Uma busca espiritual não deve ser feita em cima do tatame. Ela deve ser feita em um templo, uma igreja, através de uma religião qualquer. O aikidô não vai te dar respostas para questões existenciais. 

O aikidô não possui uma filosofia, como tanto as pessoas gostam de dizer. Filosofia é o questionamento diante de valores e interpretações comumente aceitas, é a reflexão de idéias, análise, discussão. O que há no aikidô é o reflexo das idéias de um homem, este sim muito religioso. O aikidô é a parte física, por assim dizer, que junto com a religiosidade de cada um, seja esta qual for, pode conduzir à iluminação.

A harmonia do aikidô vem de saber lidar com tudo e todos, saber transitar achando um ponto de equilíbrio. É saber usar a sua energia de forma adequada. Esse é o caminho proposto. É o de criar indivíduos capazes de agir adequadamente diante de qualquer situação, tornando-os assim capazes de viver e criar uma sociedade melhor.

Acredito que nada disso seja novidade. São coisas óbvias, mas que por isso mesmo é sempre bom sermos lembrados delas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Aikido paranóia

Estava para fazer essa resenha há algum tempo, mas a preguiça e a falta de condição tecnológica impediram.

O título se refere a uma observação que venho fazendo já não é de hoje e ficou muito mais clara após o seminário do meu último post.

Algo acontece que as pessoas querem transformar o aikido na arma perfeita(através de seus próprios corpos). Você deve treinar para ser capaz de se defender de qualquer coisa a qualquer momento. Não pode vacilar nunca. Deve treinar igual à realidade. Essa foi a mensagem de sensei ReynoSSa. "Um bandido na rua não vai fingir que te dá um soco!", disse ele. Só esqueceram de avisá-lo que aqui no Brasil um bandido vai te dar um tiro e não um soco.

Além disso basta acompanhar as comunidades do Orkut. Alguns continuam pregando este tipo de mensagem. Claro que o aikido é uma arte marcial, mas passar essas imagens de invencível podem ser perigosas. Acho que trata-se de uma inveja em relação às outras artes/lutas. BJJ, Krav-Magá, Hapkido, dentre outras invenções bizarras, ostensivamente se vendem como a defesa pessoal perfeita. No aikido nunca houve esse marketing, e por isso é desconsiderado pelos praticantes de outras artes.

Bom, no pŕoximo fim de semana tem seminário com William Gleason. Até onde sei será um enfoque bem diferente. Bill Gleason é 6º dan e seu professor é o shihan Mitsuge Saotome, de Washington.



terça-feira, 29 de setembro de 2009

Seminário com Larry Reinosa

Larry Reinosa, caso alguém não saiba, ganhou fama apenas como aluno de Steven Seagal. Não conheço efetivamente o nível do aikido dele, apenas por vídeos. Espero que seja bom e corresponda às expectativas que se tem quando o nome do Seagal é citado, ou seja, aikido direto, porradeiro.

Reynosa sensei fundou sua própria organização, ligada à aikikai, após deixar o grupo de Seagal. Diz a lenda que assim que ele ficou órfão de Seagal, saiu a procura de alguém que pudesse acolhê-lo e promovê-lo ao 6º dan. Foi até Yamada sensei.

Não é aprimeira vez que ele vem ao Brasil, já esteve em Fortaleza, Curitiba e Campos do Jordão algumas vezes. Há alguns representantes de seu grupo aqui no país, o Makoto Aikido Kyokai.

O evento acontecerá na AABB da Tijuca, na rua Haddock Lobo, 227, no próximo sábado, dia 03 de outubro de 2009 a partir das 9 hs. Acho que vai poder fazer inscrições na hora, pelo menos pretendo me inscrever na hora. O valor estava R$ 70,00 para inscrições antecipadas, mas acredito que vá a R$ 100 na hora.

Mais informações escrevam para o sensei Ricardo Martins em sensei@ricardomartins.pro.br.

Até lá!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

30 anos de Luc e treino em Sampa

Final de semana passado rolou o seminário em comemoração aos 30 anos de aikido de Luc leoni. O evento foi até legal, apesar do calor infernal e de toda a política em volta, que apesar de conhecer, não consigo me acostumar.

Participei das aulas dos senseis Lagares, Wagner Bull, Claude Walla, Luc Leoni e Carlos Nogueira. Cada um em seu estilo absolutamente diferente de pensar e de fazer as coisas. Durante a semana estive treinando com sensei Nishida em Sampa. Mais uma vez completamente diferente.

Esta semana foi legal neste aspecto. Treinei várias formas diferentes, vi a mesma coisa sobre enfoques diferentes. Treinos fortes, fracos.

No final valeu!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aniversário de 30 anos de Luc Leoni

Hoje inauguro esse blog, que como tantos outros, provavelmente vai afundar. O tema pode parecer propaganda, mas trata-se do evento que ocorrerá esta semana(19 e 20 de setembro de 2009) aqui no Rio.

Antes vou esclarecer que não treino com sensei Luc e não sou do grupo dele.

Conheci Luc Leoni há alguns anos atrás. Acho que naquela época não fazia muito tempo que ele havia chegado ao Brasil. Apareceu para treinar junto com mais 3 pessoas(2 mulheres e 1 cara) que supostamente já eram alunos dele e o início do seu grupo. Mostrou um aikido mais forte do que eu estava acostumado e treinamos em um ritmo intenso. Achei interessante.

Vim posteriormente a saber que ele havia em algum instante treinado com Tissier, sensei que achava bom.

A Nippon Kan, grupo presidido por ele aqui no Brasil e fundado por Gakku Homma sensei os EUA, cresceu rápido no Rio principalmente em virtude de alguns alunos terem sido expulsos da FEBRAI pelo sensei Alexandre Salim. Isto foi o que as pessoas expulsas me contaram.

O que acho mais curioso é que, também naquele época, uns 8 anos atrás, pelo menos, me contaram que o shihan de um grupo de aikido brasileiro havia informado a todos os seus alunos e dojos filiados que Luc Leone era o "diabo na terra" e que iria fazer visitas aos dojos apenas para roubar alunos para o seu grupo. Este mesmo shihan enviou espiões quando do seminário de Hitohiro Saito, organizado pela Nippon Kan no Rio, para fiscalizar qualquer aluno do grupo que se atrevesse a desobedecer sua ordem de proibição de participar do seminário sendo a penalidade a expulsão do grupo. Acho curioso por que agora este mesmo shihan é convidado especial para o seminário deste fim de semana.

Mas deixemos esses comentários de lado e nos concentremos no evento. Professores de estilos bastante diferentes participarão: Carlos Nogueira, Alcino Lagares e Fernando Santanna são alguns exemplos. Eu não iria, mas acho que valerá a pena observar este caldeirão, digo, esta mistura de organizações e "estilos".