sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Aikido para deficientes visuais

Há algum tempo venho com essa ideia na cabeça, expandir a prática para pessoas com algum tipo de deficiência. Durante os treinos sempre procurei fechar os olhos antes de executar uma técnica ou mesmo quando sou uke. Isso para tentar sentir melhor o caminho que devo seguir, perceber onde estou tenso, buscar entender melhor essa coisa de aiki, união, harmonia. E tem dado certo, acho que melhorei bastante.

Isso me fez pesquisar mais na internet sobre o assunto. Buscar relatos de experiências do gênero em dojos do mundo todo para montar um projeto visando isso aqui no Brasil. Nesta busca encontrei o texto de Christopher Bartlett, aikidoca cego, e que traduzo abaixo(o original publicado no site aikidofaq pode ser lido aqui).

Ensinando crianças com deficiência visual
por Christopher Bartlett

Sendo eu mesmo um aluno cego, vamos começar pelo óbvio. Nem todos os cegos foram criados iguais. Por mais estranho que pareça, há pessoas cegas que não são muito boas no campo tátil e que precisam de orientações verbais firmes para auxiliá-los em seu "não tão bom" tato. Isso será particularmente verdadeiro em alguém cuja cegueira seja recente.Então não assuma que permitir ao aluno que sinta algo irá magicamente ajudá-lo a entender.

Seguinte, enquanto a visão é um sentido no modo paralelo, o tato é, definitivamente, serial. Você só é capaz de tocar parte de um objeto do tamanho do corpo de um outro ser humano de cada vez. Há um problema com a priorização. Tente mostrar demais, ou fazê-lo de uma forma desconexa e você terá a parábola do cego e o elefante. Foque no ponto que você deseja desenvolver e certifique-se que ele tenha sido compreendido antes de seguir adiante.

Certifique-se de entender que alguém que não pode enxergar ficará inseguro em se mexer com o corpo todo em um ambiente que ele não tem intimidade, mesmo que conscientemente ele saiba que seja seguro. A tentação é ser experimentativo, tentar e buscar as bordas, paredes e outros obstáculos, mesmo quando estejam longe o bastante para não termos o contato com eles. Isso pode ser desorientador algumas vezes.

Exemplo: nós andamos para lá e para cá no tatame algumas vezes quando praticamos vários tipos de movimentações. Em cada ponta do tatame existe uma pequena diferença entre o piso aonde o tatame está e o chão aonde as pessoas circulam. Já bati meu dedão ali algumas vezes, então eu tendo a para um pouco antes da beirada. Estou tentando aprender a sentir com meus pés a perceber o quão próximo do fim do tatame eu estou. mas muitas vezes isso afeta o meu giro adversamente. 

Se seus alunos são parecidos comigo, eles adorarão estar em contato com o uke e de início serem um pouco ardilosos em relação à fase de finalização da técnica. Os alunos cegos tem que fazer antes o que vocês farão em algum momento, retirar a ênfase na visão como um método de perceber quando e qual ataque está vindo. Para ensinar o básico, fique nas técnicas de contato um pouco mais de tempo do que você ficaria com um aluno que enxerga. Ensine também alguns movimentos simples de esquiva que eles possam fazer, mesmo com o tempo de reação reduzido que eles provavelmente terão.

Estas são apenas algumas dicas que me ocorrem no momento. Espero que sejam úteis.