Me recordo do dia que comecei, não da data exata(foi em outubro de
1992), mas dos acontecimentos. Tinha 22 anos de idade. A matrícula fiz
na hora do almoço(trabalhava ali perto) para a noite já começar, de
quimono e tudo.
Para fazer a inscrição era necessário responder uma pergunta: qual o
motivo da sua vontade em treinar aikidô?. Não preenchi. E não o fiz por
que não sabia a resposta. Nem mesmo os filmes de Seagal da época eram
motivo, como tantos informaram. Até mesmo por que nunca havia associado
Seagal ao aikidô. Aliás, não sabia absolutamente nada do que era o
aikidô. Portanto, se você está lendo esse texto procurando uma resposta
objetiva para que você comece a treinar, leia até o final, é curtinho.
Cumprimentei o professor e me apresentei antes da aula. Os alunos mais
antigos me orientaram nos passos iniciais de entrada no tatame. Perdido,
tentei seguir a aula. Irimi nage e shiho nage. A dica de um senpai
sobre o fato do nage sempre ter que estar confortável e o uke na
situação oposta. Dica que guardo e tento praticar até hoje. Foi
interesse instantâneo. O desequilíbrio sem usar força bruta, a
movimentação, o uso do corpo, tudo me interessou profundamente. A falta
de competições e o fato de treinar para mim, sem precisar provar nada a
ninguém foram a "cereja do bolo".
Os dias de treinos se passavam, se transformaram em meses e alguns anos.
Até que durante um treino meu braço foi quebrado. Falta de perícia
minha e também do nage. Tudo indicaria que ali acabaria o amor com a
arte. Puro engano! Gesso, fisioterapia e logo em seguida a volta aos
tatames, de forma definitiva. Surpresa para muitos, talvez alguns até
quisessem que ali tivesse sido meu fim. Não foi. Tiveram que me engolir.
E não foi por que uma arte marcial também serve para isso. Superar seus
limites e obstáculos. Devidamente superados.
Alguns anos depois disso meu professor resolve parar de dar aula.
Assumiu em seu lugar um aluno faixa marrom(1º kyu). Ficamos no dojo
basicamente apenas eu e ele. Todos os outros alunos migraram para outro
dojo, aonde o professor, também 1º kyu, atraía mais a atenção. Dessa
vez, nova e maior superação, a falta de uma orientação sólida. Aí
aprendi que o aikidô se faz também fora do tatame. E foi nesse instante
que percebi que realmente não havia mais saída para mim, a arte fazia
parte da minha vida.
Mudei de grupo, de professor, de cidade, de forma de treinar. Evoluí,
aprendi. Cheguei à faixa preta(16 anos para isso) com um aikidô sólido.
Mais 5 anos e atingi o segundo dan. Um total de 21 anos até então.
Muitos nesse período já haviam chegado ao quarto ou quinto dan(nem tão
habilidosos), outros pararam(muitos muito habilidosos). Nesse período
tive a oportunidade de fundar o grupo Aikidô Piauí(2013), de participar
de diversos seminários, inclusive do doshu Moriteru Ueshiba, e de
treinar fora do Brasil. E ano que vem(2018), se tudo der certo, a visita
ao Japão.
Sou aluno e professor, uma experiência completa, que melhora meu aikidô a
cada dia. Que me faz ter certeza do caminho certo que tomei. Hoje, 25
anos depois(2017), me orgulho de cada passo que dei dentro da arte.
Mas, enfim, por que treinar aikidô? Para mim porquê me permitiu viver
isso tudo, me permitiu ser uma pessoa do mundo, me permitiu conhecer
como as outras pessoas são, me deu mais disposição para enfrentar as
dificuldades, me deu mais confiança diante dos desafios, me deu o que
sou hoje, uma pessoa bem melhor que há 25 anos atrás.
Não foi o bastante para você? Tudo bem! Tenho certeza que você ainda encontrará o seu "aikidô".
De toda forma acho que não custa nada tentar. Venha nos fazer uma visita, uma aula experimental. Aguardamos você. Um abraço!
bom dia Sensei, muito interessante suas ponderações, sem serve de ajuda, alento ou modelo para alunos mais novos, ou mesmo para quem está na caminhada já a algum tempo.
ResponderExcluirSou Aluno (SHODAN) do Sensei Severino (FEBRAI), mas sempre estamos em busca de conhecimento e experiencias de outros Mestres.
No meu caso o AIKIDO ajuda muito na minha caminhada profissional, sendo que muitas lições do tatame,podem ser usadas na área comercial onde trabalho. Por conta de mudanças no trabalho, mudanças de cidade e problemas de saúde, também levei anos para chegar a faixa preta, treino desde 2002, são 15 anos de estrada. No ano passado estivemos no Hombu Dojo, e tenho na FEBRAI amigos que já estiveram lá em diferentes períodos. portanto fique a vontade em manter contato se achar necessário. Ilson Alves, pode me achar no facebook e visualizar as fotos da viagem. grande abraço.
Ilson, muito obrigado por acompanhar o blog. Não uso o Facebook, mas a Escola Meirelles de Aikido e o grupo Aikido Piauí tem, pode se juntar aos grupos de lá, se quiser. Também, se desejar, pode enviar um texto para cá sobre a sua viagem que o publico.
ExcluirAbraço.