quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Por que o aikido atrai tão pouco as mulheres?

Claramente a presença masculina domina o mundo das artes marciais e, claro, não poderia ser diferente em nossa arte. Poucos são os nomes femininos em destaque no aikido nacional e internacional.

Apenas muito recentemente surgiram nomes como os de Micheline Tissier, Yoko Okamoto e Nadia Korichi. Mais antigas temos Stephanie Yap e Pat Hendricks. No Brasil se destacam Fumie Nishida e Marai Luiza Serzedello como mais graduadas, ambas 6º dan atualmente. Na verdade a coisa parece ser tão séria que no último congresso da IAF(2016 em Takasaki no Japão) houve uma rodada de discussões dedicadas a isso.

Poderíamos apelar para a cultura brasileira, aonde tipicamente as mulheres não se interessam por atividades de combate. Elas sempre tendem a escolher atividades mais lúdicas ou criativas como dança ou artes plásticas. Outras trilham o caminho das artes marciais geralmente para extravasar a agressividade, competir ou como ginástica. Algumas por terem sido "forçadas", como Micheline Tissier(veja entrevista dela no Youtube).

Mas como atrair mais praticantes? Talvez mostrando a elas o quão benéfico, porém demandante, é a prática do aikidô. Exigirá muita dedicação, mas trará diversos benefícios. Um grande exemplo disso li recentemente no livro “Martial Arts and Philosophy: Beating and Nothingness”(Graham Priest, Damon A. Young), aonde a autora de um dos textos, Patricia Petersen, discorre sobre como o karate a ajudou a trilhar e consolidar a sua posição feminista(capítulo 9 - Grrrrl in a Gi). E para isso ela explica como a prática diligente do karatê a transformou de uma pessoa com tendências a aceitar a submissão e até mesmo relacionamentos relativamente abusivos em alguém segura de si, tanto no aspecto físico quanto psicológico. É um relato muito interessante, ainda que assuma um tom um pouco autoconfiante demais. Ali ela também divulga números de uma pesquisa feita na Austrália que demonstra o quanto as mulheres ainda se tornam vítimas. Claro que o texto se aplica a qualquer arte marcial e se chegasse a mais mulheres no Brasil poderíamos ter uma mudança neste cenário. No cenário do número de praticantes e, principalmente, no número de casos de violência contra elas, que poderia diminuir muito. Não somente por aprenderem a se defender fisicamente, mas principalmente a evitarem a situações de risco. Gosto de dizer que antes de bater é mais importante não apanhar. A prevenção é sempre  melhor negócio. Abaixo segue uma tradução livre de um pequeno trecho do texto:


“Uma mulher faixa-preta tipicamente não se expõe a riscos desnecessários - não estaciona em lugares escuros, está sempre atenta a alguém que possa a estar seguindo, nunca deixa sua porta destrancada, procura saber quem está na porta antes de abrir, não desce do ônibus no meio do nada, garante que o ambiente em que ela está seja seguro.” (Patricia Petersen).

Como dica deixo também o link para o blog de Lila Serzedello sensei:

https://lilaserzedello.wordpress.com/

Tomara que um dia esse cenário mude.

Um comentário:

  1. Essa colocação é ridícula e reforça ainda mais o machismo no aikido, demonstra o seu desconhecimento sobre mulheres e aikido. Quais são os fundamentos racionais para você justificar a falta de mulheres no aikido, porque acha que nós mulheres gostamos de dança, balllet ou qualquer outra bobagem lúdica?
    Eu sou mulher, e conheço várias, que não gostam de dança e nem de atividades lúdicas. Ou seja, seu texto cai por terra, não se fundamenta. Seu texto reforça o machismo no aikido e a visão deformada das mulheres no aikido.
    Vou te dizer porque não tem mulheres no aikido, já que sou aikidoca e há 5 anos tento treinar aikido e sou incomodada por senseis de aikido inseguros e mal resolvidos.
    Não tem mulheres no aikido, por conta do machismo no aikido e por conta do despreparo e da incompetência dos senseis de aikido.
    Entre no meu blog e leia a minha trajetória no aikido e ai sim você entenderá o que uma mulher que pratica aikido e é ativa nessa arte marcial passa e sente.
    Agora esse texto seu acima, além de reproduzir a ignorância sobre as mulheres, reproduz ainda mais o machismo.
    Entre no meu blog que eu desconstruo essas suas colocações, que infelizmente se generalizam entre os senseis de aikido.

    Mas como atrair mais praticantes? "Talvez mostrando a elas o quão benéfico, porém demandante, é a prática do aikidô". Não, é assim que se atrai mulheres para o aikido, elas já sabem desses benefícios, se atrai mulheres pra o aikido, preparando melhor os alunos para recebê-las, os senseis praticando o autoconhecimento e se tornando menos machista e preconceituoso. Entre outras coisas. Se atrai as mulheres, respeitando as mulheres de fato e não só na teoria e com textos bonitos em blogs e sites.

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